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Foto do escritor5º Encontro Nacional

Acolhida e momento de autocuidado marcam primeiro dia do V Encontro Nacional

por Lucianna Silveira/Coletivo Nigéria/Especial para o V Encontro


A 5ª edição do Encontro Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo do Estado foi realizada em maio no Ceará.


O encontro da rede nacional, que estava previsto para acontecer no estado em 2020, foi adiado duas vezes, após dois anos de pandemia, mas entre os dias 17 a 20 de maio, Fortaleza recebeu movimentos de mães e familiares de diversos estados do Brasil.


Estiveram presentes mais de 30 movimentos, grupos e coletivos organizados de mães e familiares das cinco regiões do país. Foram mais de 100 pessoas, sobretudo, mulheres mães, tias, irmãs, esposas e filhas que fizeram os momentos do encontro acontecer.


Mesmo de cidades e estados diversos, as histórias e trajetórias partilhadas se encontravam na dor, na luta por memória das vidas das crianças, adolescentes e jovens tombados pela violência policial, partilhas que se dão também na luta por reparação e justiça e na luta por um sistema que ressocialize e não estimule mais ainda uma lógica de violência.


O encontro se iniciou com a leitura da carta que resumiu a proposta dos quatro dias, lida por Suderli de Lima, uma das mães do Movimento de Mães e Familiares do Curió. Em seguida, Alêssandra Félix, do Coletivo Vozes de Mães e Familiares do Socioeducativo e Prisional, realizou a leitura e pactuação da carta de convivência com as diretrizes propostas pelos movimentos do Ceará.


Para acolher as mães nacionais houve um momento de autocuidado e cuidado coletivo. O objetivo era lembrar que, mesmo em meio ao luto e a luta cansativa enfrentada pelas mães e familiares, ter um momento de cuidado com a saúde e com a mente e fortalecendo outras mulheres e homens, é essencial para não ceder.


O momento de cuidado foi feito pela assistente social Iara Fraga, que buscou resgatar uma memória ancestral, de afeto e partilha, a partir da água de cheiro e do banho de ervas. Em duplas, mães e familiares dedicaram um momento de cuidado e troca de afetos.




Microfone Aberto


Ainda no primeiro dia, Israel, articulador social, poeta e sobrevivente do cárcere, recitou uma poesia lembrando da luta das mães e das populações periféricas. Assista a trechos da intervenção aqui:





Patrícia Oliveira e Márcia Jacintho, da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, do Rio de Janeiro, relembraram a trajetória da Rede Nacional, criada em 2016, que culminou com a realização do 1º encontro, em São Paulo, no mesmo ano.


Após um resgate histórico dos encontros anteriores e das articulações e objetivos da Rede Nacional, as mães e familiares presentes puderam falar de suas lutas e histórias e ecoar suas vozes reivindicando justiça e respeito em memória das vítimas e do enfrentamento das mães.


“Nós precisamos clamar por justiça!”, disse Beth, mãe de Manaus, acompanhada, logo após, por outras vozes das mães e familiares presentes.

“É dever do Estado zelar e proteger. Eu não posso legitimar esse Estado genocida”, criticou Deize Carvalho, fundadora do Núcleo de Mães de Vítimas de violência e mãe de Andreu Luiz, assassinado em 2008, aos 18 anos, em uma unidade socioeducativa.

Ela falou sobre a triste estatística de mortes ocorridas na periferia fruto de intervenções policiais e problematizou as práticas de autos de resistência, como sendo uma prática racista e geradora de impunidade ao estado e ao agente.


Sandra Gomes, do Coletivo de Mães de Jacarezinho, trouxe em sua fala a trajetória de vida do filho Matheus Gomes, uma das 28 vítimas da chacina, que aconteceu em 2021, e da sua luta por justiça e reparação há 1 ano.


“Eles inocentaram meu filho, mas alegaram que foi bala perdida”, disse a mãe.

Ana Lúcia, do Movimento de Mães e Familiares do Curió, perdeu o esposo José Gilvan, na Chacina do Curió, em Fortaleza, em novembro de 2015. Ela lembrou da sua luta, que já dura 7 anos e expressou a espera das mães e familiares pelo júri popular aos acusados.


“Eu luto todo dia, tirando força onde não tem, mas nossos mortos têm voz!”

Elisabeth Lima, do Coletivo Vozes de Mães e Familiares do Socioeducativo e Prisional do Ceará, contou sobre o filho João Gabriel, que passou pelo sistema socioeducativo e foi morto no ano passado, aos 18 anos, dentro dele. “Eles [o Estado] não estão nem aí para os nossos filhos”, criticou a mãe.


Durante quase todas as falas, fortalecimento foi uma palavra muito repetida. Além do luto e das diferentes lutas que cada mãe e familiar carrega, estar juntas é também compartilhar o peso nos ombros e o cuidado para que nenhuma possa cair.


“Viemos para nos fortalecer porque ainda estamos fragilizadas”, encerrou Sandra Gomes, durante sua fala.

Na 1ª noite do encontro, muitas outras mães e familiares compartilharam suas histórias, seus enfrentamentos, sua luta por justiça, memória, reparação, acesso aos direitos e a um tratamento mais humano dentro dos sistemas de privação de liberdade, além de pedir fim a violência policial dentro das comunidades periféricas.



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